Sorocaba, 17 de outubro
de 2013
A POLÍTICA PARA
PLATÃO
O ANALFAPETO POLÍTICO
Bertolr Brecht
O pior
analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos
acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do
peixe, da farinha, do aluguel, do sapato
e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto
político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a
política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a
prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político
vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.
A POLÍTICA PARA
PLATÃO
Os escritos em que Platão trata
especificamente do problema da política, são a República, o Político e as Leis.
Na República, a obra fundamental de Platão sobre o assunto, traça o seu estado
ideal, o reino do espírito, da razão, dos filósofos, em chocante contraste com
os estados e a política deste mundo.
Qual é, pois, a justificação da
sociedade e do estado? Platão acha-a na própria natureza humana, porquanto cada
homem precisa do auxílio material e moral dos outros. Desta variedade de
necessidades humanas origina-se a divisão do trabalho e, por consequência, a
distinção em classes, em castas, que representam um desenvolvimento social e
uma sistematização estável da divisão do trabalho no âmbito de um estado. A
essência do estado seria então, não uma sociedade de indivíduos semelhantes e
iguais, mas dessemelhantes e desiguais. Tal especificação e concretização da
divisão do trabalho seria representada pela instituição da escravidão; tal
instituição, consoante Platão, é necessária porquanto os trabalhos materiais,
servis, são incompatíveis com a condição de um homem livre em geral.
Segundo Platão, o estado ideal
deveria ser dividido em classes sociais. Três são, pois, estas classes: a dos
filósofos, a dos guerreiros, a dos produtores, as quais, no organismo do
estado, corresponderiam respectivamente às almas racional, irascível e
concupiscível no organismo humano. À classe dos filósofos cabe dirigir a
república. Com efeito, contemplam eles o mundo das ideias, conhecem a realidade
das coisas, a ordem ideal do mundo e, por conseguinte, a ordem da sociedade
humana, e estão, portanto, à altura de orientar racionalmente o homem e a
sociedade para o fim verdadeiro. Tal atividade política constitui um dever para
o filósofo, não, porém, o fim supremo, pois este fim supremo é unicamente a
contemplação das ideias.
À classe dos guerreiros cabe a
defesa interna e externa do estado, de conformidade com a ordem estabelecida
pelos filósofos, dos quais e juntamente com os quais, os guerreiros receberam a
educação. Os guerreiros representam a força a serviço do direito, representado
pelos filósofos.
À classe dos produtores, enfim, -
agricultores e artesãos - submetida às duas precedentes, cabe a conservação
econômica do estado, e, consequentemente, também das outras duas classes,
inteiramente entregues à conservação moral e física do estado. Na hierarquia
das classes, a dos trabalhadores ocupa o ínfimo lugar, pelo desprezo com que
era considerado por Platão - e pelos gregos em geral - o trabalho material.
Na concepção ideal, espiritual,
ética, ascética do estado platônico, pode causar impressão, à primeira vista, o
comunismo dos bens, das mulheres e dos filhos, que Platão propugna para as
classes superiores. Entretanto, Platão foi levado a esta concepção política - tornada
depois sinônimo de imanentismo, materialismo, ateísmo - não certamente por
estes motivos, mas pela grande importância e função moral por ele atribuída ao
estado, como veículo dos valores transcendentais da Ideia. Tinha ele
compreendido bem que os interesses particulares, privados, econômicos e,
especialmente, domésticos, estão efetivamente em contraste com os interesses
coletivos, sociais, estatais, sendo estes naturalmente superiores àqueles -
eticamente considerados. E não hesita em sacrificar totalmente os interesses
inferiores aos superiores, a riqueza, a família, o indivíduo ao estado,
porquanto representa precisamente - consoante seu pensamento - um altíssimo
valor moral terreno, político-religioso, como única e total expressão da
eticidade transcendente.
Se a natureza do estado é,
essencialmente, a de organismo ético- transcendente, a sua finalidade
primordial é pedagógico-espiritual; a educação deve, por isso, estar
substancialmente nas mãos do estado. O estado deve, então, promover, antes de
tudo, o bem espiritual dos cidadãos, educá-los para a virtude, e ocupar-se com
o seu bem estar material apenas secundária e instrumentalmente. Platão tende a
desvalorizar a grandeza militar e comercial, a dominação e a riqueza,
idolatrando a grandeza moral. O grande, o verdadeiro político não é - diz
Platão - o homem prático e empírico, mas o sábio, o pensador; não realiza tanto
as obras exteriores, mas, sobretudo, se preocupa com espiritualizar os homens.
Desta maneira é concebido o estado educador de homens virtuosos, segundo as
virtudes que se referem a cada classe, respectivamente. Esta educação é
dispensada essencialmente às classes superiores - especialmente aos filósofos,
a quem cabem as virtudes mais elevadas, e, portanto, a direção da república. Ao
contrário, o estado em nada se interessa - ao menos positivamente - pelo povo,
pelo vulgo, pela plebe, cuja formação é inteiramente material e subordinada,
consistindo sua virtude apenas na obediência, visto a alma concupiscível estar
sujeita à alma racional.
Referência
FIORIN, José Augusto (org). O pensamento humano na história da
filosofia. Ijuí:Sapiens, 2007, 340p.